janeiro 09, 2010

Marbanho

no entreabrir das portas
desaterro o meu corpo nu
despejando sua lama impregnada
pelos corredores da casa
que percorrem o quarto, a cozinha, o banheiro
as portas entreolham-se
e acabam ficando molhadas
definhando-se pelo movimento
das águas que devastam a sala
e permeiam os quatro cantos da casa
eu permaneço ali
inundado pela enchente da cama
submerso nesse solo encharcado
de lama, lágrima, pus e suor
na espreita da sua chegada
e na espera da sua partida
poder navegar pelo seu corpo inavegável
que evapora-se no encontro das águas
que percorrem as valas da calçada
rumo a saída da casa
para que no entrefechar das portas
eu tenha a capacidade de me asfixiar
na ausência da sua humidade