novembro 09, 2013

Hoje, eu me procurei pela casa inteira por horas, me perdia em me achar pela casa, em todos os cantos por cada detalhe mínimo por máximo e vice-versa. Sem sucesso não me encontrei em nenhum GPS ou radar. Não estava nem debaixo nem em cima do colchão, também não me encontrei debaixo da cama, muito menos no armário e nem em nenhuma gaveta do criado mudo, não estava na pasta de arquivos no serviço e não encontrava na caixa do correio do condomínio e nem perdido entre as bolinhas de papel da cestinha embaixo da minha mesa. Me procurei nos bolsos da calça e da camisa, também não me achei na embalagem de leite em caixinha, lá não tinha minha foto como desaparecido nem meu nome como procurado no mural da delegacia. Decepcionado fiquei, em não ver nada a respeito na televisão, o rádio não ouvi nada, os jornais pior ainda, futebol, guerra do tráfico com a polícia, glamour da coluna social, e os capítulos da novela das nove, mas eu não estava lá, e ninguém citou meu nome, até nos classificados procurei, mas só conjugados, dois quartos com suíte e duas vagas na garagem, com porteiro 24 horas, meu nome e meu rosto não estava no outdoor, muito menos no vidro traseiro de nenhum ônibus.
Fui então me procurar, me procurar pelos lugares improváveis, assim, atrás de mim, me procurar onde eu não estou, digo, aonde eu possa me encontrar, eu que não estou nem aqui, nem ali, nem debaixo, como fazer? Pra aonde ir? Me procurar pelos lugares improváveis atrás de mim, pela escuridão tentar me achar, percorrer os cantos escuros aonde eu, atrás de mim, pelas minhas sombras, digo, pelas sombras me encontrar. Isso me basta, digo, isso basta, isso basta, isso basta, isso basta, isso basta, isso basta, basta talvez percorrer pelas palavras, depois da escuridão as palavras, nos cantos das páginas amarelecidas, percorrer atrás de mim, nos cantos escuros das páginas amarelecidas, assim, me procurar nas assinaturas ilegíveis nos cantos escuros das páginas amarelecidas, assim, eu posso, atrás de mim, me encontrar.

 (*Escritos com César)
Tá amarelecido. Deixa assim. O amarelo alegra a casa.

setembro 12, 2013

As repetições. As rodas. Os redemoinhos.

Frestas meio abertas
De venezianas
Caressem

Silêncios intensos
Ora um e ora o outro
Correm-se

Gestos dançados
Observados
Na metade

A mesma voz
Melódica
Partida

Cama querendo
Ora um e ora o outro
Olho


abril 29, 2013

TREMOR


Ele passa sem rosto com precisão
Homem sem contorno
Que desaparece pela casa
Ele – homem que passa
Não eu
Não ele

Não dorme, transita
Entra com a televisão nas mãos
Ligada pelos fios desenrolados pela casa
Nunca está presente
Nunca ele

Dá parabéns, cheques, peixes, vidro
Sobe a antena, desliga a máquina
Bate na lateral direita da televisão
Corta a orelha do filho
Não eu

Repassa pelo mesmo caminho sem perceber
Ele nunca chega, sempre indo
Tem que trocar a água, que sobe
Para dar de presente o mar para o filho. 

março 26, 2013

Ser aquilo que se apaga para existir.

Deixem 

água 

cair.

março 22, 2013

Com César

São esquecidas todas as palavras que ficaram presas na boca, que se resguardaram no silêncio, nas reflexões de quase tudo. 

Quase tudo é sempre o bastante pra desaguar qualquer lágrima, que em mim é quase um regato, de quase tudo. 

 O ar está cheio das muitas poucas coisas. Das poucas coisas que restou de ti, resta eu. Resta pouco de mim. 

Não muito mais, ouvia a sua voz presa a minha nuca. Mas agora ela se cala, dentro da minha boca.

 Eu fecho você. E o mar se esvai de olhos fechados e se fecha no fim. Pra sempre prestes a terminar.

 No não impulso, sem pulso, eu pulso nas palavras engolidas. Na espreita da tua chegada e na espera da sua partida.